terça-feira, 7 de julho de 2015

Riscos nas operações de helicópteros em locais não homologados

Artigo elaborado pelo setor de Segurança de Voo da Go Air

Helicópteros possuem peculiaridades nas operações em comparação com aviões. Como em qualquer operação, existem suas vantagens e desvantagens e isso é o que faz um piloto escolher o que irá voar.

Um dos destaques de diferenciação dessas operações é a característica que tem o helicóptero de poder ser operado com maleabilidade quanto ao local de operação eventual, aliada à disponibilidade de utilização.

Com efeito, para pousos ou decolagens, basta uma área que não precisa necessariamente de homologação ou de pista para realizar procedimentos conforme previsto no manual de voo da aeronave.

Partindo do princípio da noção sobre riscos nas operações de helicóptero, ter uma equipe de trabalho capacitada para a realização dos voos é de grande importância para a Segurança Operacional.

Neste documento, são apresentados os perigos comuns existentes em grande parte das operações em locais não homologados. Nosso objetivo é que haja familiarização com os perigos envoltos à operação e, por consequência, a mitigação dos possíveis riscos (seja pela probabilidade e/ou severidade).



Fios de redes elétricas



Pilotos da aviação geral (particularmente pilotos agrícolas) continuam a atingir fios, assim como linhas de alta tensão, durante o voo. Nos últimos 10 anos, houve cerca de 180 acidentes de colisão com fio na Austrália. Na maioria destes acidentes, os pilotos estavam cientes das linhas de alta tensão antes de atingi-las.

Portanto, o ATSB (Australian Transport Safety Bureau) divulgou sete simples dicas de como minimizar o risco e evitar colisões com fio.

As estratégias a seguir vão ajudar a minimizar o risco de colisão com fios durante o voo:

1. Certifique-se de que você está fisicamente e mentalmente apto para voar. A fadiga pode afetar negativamente a memória de curto prazo, o tempo de reação, os níveis de alerta e seu foco de atenção.

2. Definir as expectativas dos clientes, de forma que fique claro para eles que a segurança vem em primeiro lugar. Isto inclui o gerenciamento de pressões operacionais e não aceitar tarefas que estejam além de seus mínimos pessoais.

3. Realizar um reconhecimento aéreo antes de operar a baixa altitude. Assim como um mapa detalhado do terreno e um briefing completo da missão são importantes, você também precisa confirmar a localização dos locais onde haja fiação, torres e cabos de alta tensão e outros perigos para você.

4. Reavaliar os riscos quando há mudanças de plano. Tratar quaisquer alterações no seu plano como uma “bandeira vermelha” — algo que você deve considerar e avaliar antes de tomar qualquer decisão.

5. Evite distrações desnecessárias e retome o foco quando estiver distraído. Distração combinada com a dificuldade de se ver um fio faz com que seja muito difícil evitar os fios “em cima da hora”.

6. Mantenha as suas limitações de vigilância em mente. A quantidade de tempo gasto em uma tarefa monótona irá afetar a sua capacidade de se manter atento.

7. Procure ativamente por fios. Sem atenção, não há a percepção. É improvável que você note a aproximação da aeronave com fios, se você não estiver ativamente procurando por eles, mesmo que você esteja previamente consciente disso.

Brownout



Por definição, “brownout” é uma restrição de visibilidade do voo devido à poeira ou areia no ar, causando perda, por parte do piloto, das referências visuais externas necessárias para controlar a aeronave, consequente desorientação espacial, perda da consciência situacional, podendo levar a um acidente.

Para se ter uma ideia, em recentes operações militares houve mais aeronaves americanas envolvidas em acidentes relacionados a “brownout” do que em todas as outras ameaças combinadas.

Em um artigo publicado pela revista Helitac, Nick Lappos cita algumas dicas úteis que podem ser aplicadas, visando evitar a ocorrência de “brownout”, sendo praticamente todas antecedidas do temido “se possível”:

→ Sempre levar em conta a possibilidade de ocorrer o “brownout” ao planejar o pouso;

→ Sempre que possível, decole e pouse contra o vento;

→ Se possível, faça sempre uma decolagem e pouso diretos (sem estabelecer o voo pairado antes);

→ A reserva de potência é importante. Com pouca reserva, as chances de reverter uma manobra ou arremeter ficam comprometidas;

→ Se for possível, reconheça o local com antecedência, para se certificar que tem condições de realizar a decolagem direta e o pouso direto ou corrido (área livre de obstáculos, solo com poucas ondulações etc).

Colisão com obstáculos



Quando uma pá do rotor principal ou de cauda atinge o solo quase sempre o desfecho é catastrófico. Preste muita atenção aos obstáculos perto da aeronave; antes de dar partida, olhe ao redor e visualize o seu setor de decolagem. Se você tiver dúvidas quanto ao espaço, não decole ou peça ajuda. Deve sempre haver uma margem de segurança.

Quando desacelerando perto do chão, evite o flare acentuado e termine a manobra numa altura suficiente para deixar espaço entre o rotor de cauda e o chão. Desacelerações muito próximas ao solo não significam nenhuma habilidade excepcional, apenas mostram que o piloto não cumpre as regras de segurança. Diversos helicópteros já foram perdidos neste tipo de manobra, não seja mais um!

Colisões em voo



O espaço aéreo é grande, mas não se deve ignorar completamente a possibilidade de colisão em voo. Este problema é mais evidente na proximidade de aeródromo, onde a densidade de tráfego é maior. Assim: sempre olhe em volta, mesmo que esteja voando em área controlada, onde a separação de aeronaves é de responsabilidade do ATC (duas precauções são melhores que uma). Atenção especial a aeroportos com várias pistas. Neste caso, atente bem para a pista autorizada pelo controle e dobre sua atenção ao tráfego de outras aeronaves.

O piloto de helicóptero deve sempre estar atento ao movimento de aves. Se estiver em rumo de colisão com um pássaro, procure desviar e lembre-se que algumas aves, como a espécie do Urubu, têm o hábito de mergulhar na tentativa de fuga. Desta forma, você evitará o choque com a aeronave e componentes críticos como rotores, entrada de ar do motor etc.

Limites



Respeite os limites de sua aeronave. Eles foram estabelecidos para que você opere com segurança. Não decole com excesso de peso. Você poderá impor esforços adicionais à estrutura e principalmente aos componentes do sistema de transmissão. Ainda, dependendo da aeronave, provavelmente excederá o limite de torque previsto e temperatura da turbina. Por último e mais importante, respeite os seus próprios limites como piloto.

Não deixe que a audácia sobrepuje sua perícia.

Operações no solo



Sempre que estiver girando, o rotor é uma fonte de perigo. Tenha cuidado para que ninguém se aproxime do rotor de cauda. Preferivelmente, tenha alguém responsável para prevenir a aproximação de qualquer pessoa. Em todo caso, você deve ter em seu campo de visão todas as pessoas que devem se aproximar da aeronave. A colisão de pessoas com o rotor de cauda contabilizava 11% do número de acidentes com helicópteros. O rotor principal também é um perigo se o solo não for plano e horizontal. O piloto deve ter em mente que há risco de decapitação para pessoas que se mantenham no solo em proeminências (pedras e muros) localizadas acima do nível do rotor, ou se movimentarem no setor mais alto do aclive, se o terreno for inclinado.

O helicóptero pode estar preso ao chão quando o rotor gira por meio de um cabo de conexão de fonte de força ou mangueira de reabastecimento. Antes de decolar, certifique-se que todo o equipamento de terra está desconectado da aeronave.

As informações podem parecer evidentes. Entretanto, observando todo o histórico de ocorrências aeronáuticas, ao serem ignoradas pelos pilotos, informações como estas foram fatores contribuintes em acidentes aeronáuticos.


Sugestões adicionais:

→ Tenha atenção com outros helicópteros utilizando a mesma área de operação, pois eles também podem causar o brownout e comprometer a operação segura durante o momento em que a área estiver encoberta pela terra;

→ Assegure-se que a área de operação está livre de objetos soltos (grama solta, galhos soltos etc.);

→ Sempre que possível, antes da operação, faça uma varredura de F.O.D no local junto ao pessoal de apoio de solo;

→ Evite pairar sobre superfícies com areia/poeira/cascalho ou sobre a água, pois além de poder alterar a visibilidade do piloto, segundo estudos realizados pela Nasa, detritos podem ser transportados para o rotor principal ou rotor de cauda, ocasionando desgaste em seus componentes (pás, por exemplo). Se ocorrer qualquer contato, realizar inspeção pós-voo com maior atenção.

Links de relatórios finais:

http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/paginas/relatorios/pdf/pt_hlo_09_07_03.pdf

http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/paginas/relatorios/pdf/pr_dmg_08_08_12

Link de vídeo – Acidente/Brownout

https://es-la.facebook.com/HelicopterosBrasil/videos/540003759444396/


Referências Bibliográficas

Conheça sete dicas de como evitar acidentes com fios de alta tensão

http://www.pilotopolicial.com.br/conheca-sete-dicas-de-como-evitar-acidentes-com-fios-de-alta-tensao/

O perigo do “Brownout” em resgate aeromédico

http://www.pilotopolicial.com.br/brownout-em-resgate-aeromedico/

CONSELHOS DE UM PILOTO QUE CONSEGUIU ENVELHECER

http://www.helicidade.com.br/conselhos-de-um-piloto-que-conseguiu-envelhecer.html

O Susto – o perigo do “Brownout”!

http://www.pilotopolicial.com.br/susto/

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